sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Você é pai?

Sei que ninguém mais deve ler isso daqui, e sei que apesar de isso ser um blog, bem, faz muito tempo que eu não escrevo um post no estilo querido diário. Muito porque eu acho minha vida muito chata, demais mesmo, além de me achar um completo fracassado.

Fora isso, tinha uma época que o Blog realmente era autobiográfico, e relendo essa época, eu me pergunto como o cara que escrevia aquilo não se matava de uma vez. A resposta é simples, ele tinha esperança.

Mas tem dias que acontecem coisas com um significado tão intenso em sua vida, que você realmente quer compartilhar, mesmo que seja em um blog que raramente ou nunca é lido. Tentei conversar com algumas pessoas sobres, algumas me ignoraram, e nenhum conseguiu entender o por que da minha melancolia, ou talvez tenham entendido e não quiseram continuar o assunto.

Pra quem não sabe, atualmente estou trabalhando como neonatologista, ou seja, aquele pediatra que dá os primeiros cuidados para o bebê assim que ele nasce, além de dar qualquer suporte que ele precise até os primeiros 28 dias de vida.

Hoje havia alguns acadêmicos do terceiro ano acompanhando o serviço, e o professor os instruiu a acompanhar eu e outro colega que estava trabalhando comigo, que coincidentemente é um grande amigo de infância.

De toda forma eu pensei, já que é pra fazer isso, devo fazer direito e passei a explicar tudo o que estava fazendo, noções básicas do desenvolvimento intraútero, essas coisas. O professor(que já foi meu professor) ouviu, e depois que eu terminei me elogiou bastante, dizendo que eu levava jeito pra ser professor, que eu pessoalmente acho o trabalho mais honrado que alguém pode fazer.

Pois então, estava lá eu fazendo minhas obrigações, então nasceu outro menino, e o professor falou:
-Comentador Fiel, vem cá, explica pra esses aqui que eles não ouviram da outra vez. Enquanto explicava novamente percebi que todos prestava atenção e participavam. Depois de terminar, percebi que eles estavam indo atrás de mim pra perguntar as coisas. E entendi como um professor se sente estimulado quando a turma é boa.

Mas o grande fato do dia, foi em um dos nascimentos em que prestei os primeiros cuidados, uma bebê lindíssima, se bem me lembro chamada Mikaela. Atendi a recém-nascida da maneira que sempre atendo, com cuidado, dedicação e tentando tranquilizar a mãe, afinal o parto é um evento muito traumático para os dois.

Ocorre que a mãe me fez uma pergunta aparentemente inocente, mas que tocou fundo em minha alma: "Você é pai?" Neguei e provavelmente fiz uma "cara de interrogação". Ela percebendo, emendou para tentar explicar: "É que você é muito carinhoso com ela (Mikaela, a recém nascida)".

Meus olhos encheram de lágrimas no mesmo momento. Ainda tinha que explicar pros acadêmicos sobre o restante do procedimento. Nesse momento o professor os chamou para observar outro nascimento. Me senti aliviado, enquanto as lágrimas escorriam discretamente por dentro de minha máscara. Me calei.

Ela provavelmente não entendeu nada. Não achei que seria interessante explicar. Mas eu sonhava com tudo isso até pouco tempo atrás. Um sonho lúcido, daqueles que você tem certeza de que é realidade. Acreditava que estava na eminência de me casar, e que daqui a alguns anos certamente teria filhos, os três filhos mais lindos do mundo, com a mulher que eu amava.

Tinha começado a desenvolver um medo de andar de moto, pensando que não seria justo deixar meus filhos sozinhos antes mesmo de nascerem. Estava de fato, sem ao menos perceber com a clareza que percebo agora, virando um pai, um homem de família.

A questão é que na minha vida as coisas nunca saem bem. E agora estou aqui, com os olhos marejados, pensando que cada momento em que respiro é um desperdício de uma vida que certamente não tem nada a acrescentar para o mundo.

Frase do dia
"O amor é filho da ilusão e pai da desilusão"
Miguel Unamuno

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Sobre pedidos

Natal, tudo estava correndo de acordo com o plano. Aprendera na noite anterior a embrulhar presentes, e utilizou esse conhecimento recém adquirido logo em seguida. Memória bem uitlizada, pensou. Colocou em um lugar escondido embaixo da ávore de natal que haviam decorado juntos.

Ela ainda não havia acordado, dorminhoca como sempre. Ela adorava o Natal, talvez por isso estava dormindo com um sorriso no rosto, sorriso de um a paz que ele nunca tinha conseguido, não até aquele momento.

Estava nervoso, pensando nos infinitos desdobramentos daquele momento. Pensando se não teria sido uma ideia melhor o filme, a ida a facudade. Mas esses pensamentos rapidamente desapareciam, dando lugar a certeza nebulosa e firme como gelatina: Não exite momento melhor que o Natal.

Não tinha escrito nenhuma carta para o papai noel, apesar de saber bem o que ele desejava ardentemente naquele dia. Talvez tenha sido o primeiro presente com o qual se empolgou desde o seu Nintendo Gamecube que ganhou há uns doze anos atrás.

Ouviu passos, ela havia chegado. Negou a ele o beijo que pediu, afinal, quão a relevância de um beijo apaixonado em um rapaz que estava morrendo de medo e que precisava daquilo comparado a necessidade urgente de escovar os dentes pela manhã?

Viu então a árvore, e curiosa pelo mistério que o rapaz havia feito a cerca de seu presente, rapidamente se pôs a procurar seu embrulho. Achou seu presente, um grande pacote, parecia um vestido. Lembranças lhe vieram a mente.

Abriu o pacote, não era o vestido. Sorriu, seu olhos brilharam devido as lágrimas recém liberadas, ela se virou. Não havia momento melhor que o Natal. Ela abriu a boca e o pai do rapaz invadiu seu quarto, oferecendo-lhe a mesma vitamina de banana de todos os dias.

Confesso que aquela manhã ela estava especialmente enjoativa, a vontade de vomitar foi quase imediata. Nunca contou para ele que odiava vitamina de banana. Olho sua mãe para ter a certeza de que fora só um sonho. Quando foi em direção ao banheiro para lavar o rosto, abriu seu armário e percebeu que o pacote estava lá, intocado, com a melancolia que só o tempo confere aos presentes não dados.

Sentiu sua esperança ir embora naquele momento.

Frase do Dia:
"As vezes quando acordamos, as sobras do sonho parecem mais atraentes que a realidade"
Craig Thompson

sábado, 27 de outubro de 2012

Sonho de uma noite de verão

Estavamos nos quatro, eu, você,a Vanessa e o namorado (agora marido) chato dela. Todos nós estavamos em uma praia, uma praia típica do nordeste, mas que eu não consegui identificar, mas que de fato não importa.

Parecia uma visita de nossa família a dela, o marido dela estava com uma cara de abuso, cara de quem não gosta de praia, cara de quem estava preocupado com seu único filho. Passava protetor solar com dedicação, como se aquele fosse o único ato que poderia fazer para proteger seu filho. Não gostava do mar, ou pelo menos não parecia gostar. Estava de bermuda e camiseta, com seus velhos óculos escuro e carregava a bolsa com os pertences de sua família.

O filho dele parecia ter herdado a sisudez do pai, mas só parecia. Na verdade ele era meio tímido, talvez por estar naquela fase da infância em que desconfiamos de tudo e de todos, mas sua semelhança com a mãe não se resumia a sua aparência física. Tinha os olhos, a boca e o nariz da mãe, talvez por isso o olhar desconfiado, o sotaque, mas tinha também as orelhas do pai e talvez por isso a atenção quase sobrenatural aos detalhes que o cercavam.

A mãe dele, apesar de ter tido um filho recentemente, estava magrela como sempre, e estava dedicada a cuidar de nossa filha, homônima, que não parava um segundo quieta. A maternidade fez bem a ela, estava mais serena, mais segura, e o único ser que ela amava tanto quanto ele, era o seu filhinho. Olhava com os olhos brilhando para ele. Estava vivendo o sonho de vestido de praia e chápeu e em seu rosto ainda se via o protetor solar recém passado.

Nossa filhinha tinha seus quatro anos, e era muito bagunceira. Não parava quieta, conversava com as pessoas da barraca ao lado, pegava sua bola de praia e ficava jogando pra um lado e pro outro, sempre passando perigosamente perto dos cavalos que transitavam por ali. Ignorava seus gritos e avisos que ela ia ficar que nem um pimentão se não passasse protetor solar. Ela amava o mar e só cedeu quando a peguei em meu colo e vim fazendo cosquinha até entrega-la em seu colo, pegando então nosso filho.

Nosso filho devia ter uns dois anos, ainda gostava de ficar no colo. Parecia comigo quando era pequeno, calado, arriscava poucas palavras, e observava atentamente tudo em sua volta, como se tentasse absorver todo o conhecimento possível sobre o local. Pedia insistentemente para que você viesse a praia conosco, enquanto nossa filha se degladiava para tentar escapar do ninho de amor em que você a havia prendido.

Você estava linda como sempre, e a maternidade tabém tinha te feito bem. Nunca te vi tão sorridente quanto naquele curto tempo que durou meu sonho. O amor por seus filhos era tão aparente quanto a semelhança sua com nossa primogênita. E estava ainda mais amorosa pois estava grávida de nossa terceira prole, como sua barriga já denunciava. Estava linda com sua canga, seu maiô e o sorriso que estampava para todos observarem.

Terminados os preparativos, chamamos nossos filhos para ir tomar um banho de mar. O marido abusado dela prontamente se ofereceu para ficar na barraca cuidando dos nossos pertences. Brinquei com ela: "Deixa esse chato e vem casar comigo." Ela riu, deu um beijo apaixonado nele, e apostou corrida com nossa filha e o filho deles para o mar.

Eu sai logo após, não antes de te dar um beijo apaixonado e, é claro, uma bela de uma apertada no seu bumbum. Você deu um tapa no meu braço e me chamou de safado, deixando nosso filhos pra lá de confuso sem entender nada. Carreguei ele em meu colo enquanto ele me perguntava por que você não vinha com a gente. Disse: "ela já vem, Enzo."

Chegamos ao mar, e nossos filhos e o filho deles foram se divertir, sempre sobre o olhar atento meu e dela, enquanto conversavamos sobre o quanto éramos felizes por termos formado nossas famílias com quem amamos e de como nossos filhos mais velhos eram parecidos com você e ele.

Você então finalmente resolveu vir pra praia, ato que imediantamente levou Enzo a correr em sua direção e quando chegou perto de você, você o ergueu em seus braços e deu um beijo cujo estralo reverberou pela praia inteira.

Então eu sorri. E acordei.

Frase do Dia
"Um sonho sonhado sozinho é um sonho. Um sonho sonhado junto é realidade."
Raul Seixas

domingo, 21 de outubro de 2012

Pulando a cerca

Ele havia chegado ao edifício, o mais alto da cidade, famoso por seu mirante que estava acima de todos. Quando avistou o elevador, lembrou de sua infância. Não, nunca havia estado naquele lugar, nem tampouco tinha qualquer lembrança boa de elevadores. De fato, tinha um certo medo desse artefato.

Lembrou dos desenhos da infância, onde para ir para o céu ou para o inferno, sempre se pegava um elevador, se escolhesse descer, ia para o inferno, e se escolhesse subir, iria para o céu. O que ele não entendia era que para se subir, era necessário descer e para descer, era necessário subir.

A viagem é longa quando se tem que subir muitos andares, e nesse tempo ele refletia que quem tem mais medo do inferno, é quem conhece o inferno de perto. Quem viveu toda a vida feliz, dificilmente pensa nessas coisas. Agora pra quem sofreu a vida inteira, fica sempre a reflexão de como é possível que exista um lugar pior do que ele vê agora.

Dizem que o destino final de sua viagem era o inferno, apesar do elevador estar subindo, afinal estava próximo de cometer um dos poucos crimes imperdoáveis de sua religião, acabar com o que é a mais sagrado em sua religião, estava indo tirar uma vida.

Ele refletiu bastante antes de tomar essa decisão e de fato era a última saída possível. Precisava lavar sua honra, fazer sua vida voltar a ter sentido, e para isso uma vida teria que ser encerrada, afinal a árvore não pode nascer sem o sacrifício da semente.

Acariciou sua aliança.

Chegou ao mirante, e seu destino o aguardava lá. Pulou a cerca, uma ação especialmente irônica, já que foi uma pulada de cerca que o trouxe até ali. O segurança viu, correu para impedir, mas já era tarde demais. Ele estava descendo, descendo para o inferno.

Dizem que as pessoas desmaiam depois de alguns minutos, ele sabia que era mentira, pois tinha visto um rapaz pular do espaço poucos dias antes e durante toda a queda conversou como se nada estivesse acontecendo.

Mas sabia tudo seria rápido demais para ele sentir dor. E não sentir dor era tudo o que ele queria. Ele queria liberdade, liberdade da vida, que só a morte pode oferecer.

Frase do dia:
"Só vivo porque posso morrer quando quiser: sem a idéia do suicídio já teria me matado há muito tempo."
Emil M. Cioran

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A carta de amor que nunca escrevi

Hoje eu despertei no nosso leito que nunca compartilhamos
na nossa casa que nunca compramos
depois de sair do nosso apartamento que nunca alugamos.

Acordei nossos três filhos que nunca tivemos
para irem pra escolha que nunca cursaram
enquanto prepara o café da manhã que nunca comemos
em nossa cozinha que nunca construímos

Admirava a aliança que comprei
Mas que nunca usamos
E Sentia o cheiro da manhã que nunca senti
E me alegrei com a companhia que nunca tive

Olhei para o lado e vi a inquilina que nunca morou
E deu o abraço que nunca pude dar
E sentir o calor do corpo que nunca foi meu
E derramei uma pequena lágrima que nunca caiu

E vi meus filhos entrarem na van escolar que nunca paguei
E me aproximei para cheirar o  seu perfume que nunca cherei
E levantei seu vestido que nunca usou
E fiz com você o amor que eu nunca fiz

E senti sua falta como sempre senti

Frase do dia:

"As duas cartas de amor mais difíceis de escrever são a primeira e a última."
 

Francesco Petrarca

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Lesko e Eu

Não é segredo pra ninguém que fazer direito e medicina ao mesmo tempo em duas faculdades públicas tem sido minha atividade nos últimos quatro anos e meio. Também não é segredo pra ninguém que fazer isso cansa, e muito.

Mas mesmo cansado de um dia estressante de trabalho, eu ainda guardo o pouco de energia que me resta pra tentar fazer um pouco de companhia para uma pessoa que eu tenho aprendido a gostar cada dia mais.

Seu nome é lesko, meu cachorro. Acho que quem me conhece sabe que eu sempre me identifiquei mais com a Arucha, que era mais quieta, mais calada e se parecia infinitamente mais comigo. O Lesko eu sempre achei meio pentelho, gostava de carinho, vinha sempre correndo pra cima da gente querendo brincar.

Mas confesso que após o término do que achei ser o relacionamento da minha vida, passei a enxergar o Lesko com olhos totalmente diferentes, e passei a enxergá-lo como um espelho canino de mim mesmo.

Todo dia Lesko chora de solidão. Pode não parecer importante pra vocês, mas cada grito de tristeza que ele solta, parte meu coração em grande velocidade. Pois eu sei como é se sentir assim, solitário. Sei como é chorar e ninguém escutar, sei como é não ter alguém ao seu lado para dividir as alegrias e tristezas.

Por isso eu tento, mesmo que de maneira débil (afinal como pode o doente salvar o moribundo?)  tornar o dia a dia de Lesko menos torturante, mesmo cansado, sempre brinco com ele, corro com ele pela garagem, faço carinho, dou um abraço.

Mas não é o suficiente, quando eu entro em casa e Lesko se encontra sozinho de novo, ele chora, grita, se desespera. E eu falo para ele, enquanto tento juntar os caquinhos do que sobrou do meu coração: Tenha calma Lesko, dizem que as coisas sempre melhoram.

Frase do Dia:

"Deixa em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa!"

Chico Buarque

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A mulher dos meus sonhos

Te conheço faz tanto tempo, talvez de conheça mais do que ninguém, mesmo sem nunca ter visto seu rosto. Desde os meus dez anos, acho, até os dias de hoje, você sempre me fez companhia nos meus sonhos, sempre ao meu lado para explorar os lugares mais estranhos que minha mente era capaz de criar durante a noite.

Nunca vi seu rosto, aliás, você não tem rosto. Não sei a cor dos seus olhos, não sei o formato do seu nariz, não sei o gosto do seu lábio, nem sua tonalidade. Pensando bem, sei pouca coisa sobre você... sei que tem a pele morena, que você muda o seu cabelo contantemente, que gosta de usar vestidos longos.

Sei também que quando estou ao seu lado, tenho a nítida sensação de que você me ama, que talvez seja a única mulher no mundo que é capaz de me amar incondicionalmente, de me amar como eu te amo. Sinto sua falta. Sinto falta da sua voz que eu nunca ouvi, mas que deve ser a voz mais doce que os ouvidos humanos podem captar.

Sinto falta de passear com você pelos campos impressionistas que habitam meus sonhos. Ou talvez seria o nosso sonho? Quando estou ao seu lado tudo que vejo é paz, tudo o que sinto é luz, tudo o que escuto é amor.

Você sempre me abandona quando eu começo a namorar, você sempre some dos meus sonhos e eu passo a sonhar com elas. Talvez por isso já tenha te confundido com outras mulheres, ou talvez uma delas fosse realmente você, e eu já tenha perdido a mulher da minha vida.

Mas o grande consolo quando eu terminava meus namoros, era que você sempre voltava pra mim. Talvez você só ficasse com ciúmes de eu estar com outra mulher. Talvez você respeitasse meu espaço. Talvez ainda desejasse minha felicidade com uma mulher de carne e osso, mas o que sentia por mim era tão forte que se via forçada a voltar para ficar comigo quando eu estava me sentindo sozinho.

Mas desde meu último término de namoro, você sumiu. Sinto sua falta, tem sido difícil sonhar sem você ao meu lado. Talvez você tenha achado um amante no mundo dos sonhos, e visto que eu não valia a pena, que existia alguém melhor pra você.

Talvez eu só tenha deixado de acreditar em você, de acreditar que existe alguma mulher que vá me amar como eu a amo. Uma mulher que goste de mim pelo que sou, que esteja disposta a ficar comigo pelo resto da vida.

Talvez eu tenha escutado a Dayane quando ela disse: "desiste Gustavo, você não nasceu pra ser amado." Talvez nem no mundo do sonho eu mereça ser amado. Afinal não sou bonito, nem rico, nem português.

Só queria dizer que queria deitar no seu colo e chorar e chorar e deixar transbordar a mágoa que enche meu coração como as águas pluviais enchem as tesourinhas de Brasília. E toda vez que eu sonho eu te procuro. Nas florestas, nos becos, nas cidades, nas cavernas, nos palácios. E você não está em lugar nenhum.

Só queria te pedir que volte. Eu sinto sua falta, sinto falta de conversar com você, mesmo você sendo muda, sinto falta de olhar nos seus olhos, mesmo nunca tendo os visto, sinto falta de beijar sua boca, mesmo não sabendo o gosto dos seus lábios.

Mas principalmente sinto falta de deitar no seu colo, enquanto você acaricia o meu cabelo e diz sem emitir nenhum som: "Eu te amo".

Frase do Dia


"e se o mundo real for um sonho, e os sonhos o mundo real?"

Keanu Conspiratório.
 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Silence is golden

Walter Bejamin, Filósofo do começo do século passado, escreveu certa vez sobre um fato curioso: Os soldados da primeira guerra, depois de viverem a parte mais intensa da sua vida, ao invés de voltar contando diversas histórias e contando vantagem sobre suas peripécias, faziam o contrário, voltavam calados.

O que viram na guerra era algo tão novo, tão fora da realidade, que faltavam palavras em seu léxico para descrever o que vivenciaram. Eles não conseguiam contar histórias para si mesmos, de traduzir o que viam em palavras, e como tal, não conseguiam lembrar.

Semelhante fato ocorreu quando os primeiros navio chegaram a América do Norte, e os índios não conseguiram vê-las. Viam o mar se mexer, vias as ondam quebrarem de forma estranha, mas aqueles monstros de madeira não faziam parte de seu mundo.

Do mesmo modo, quando vi a foto dela pela primeira vez, não falei, não contei o que estava vendo para mim mesmo, eu apenas senti. Senti um sensação de que nunca havia visto uma mulher tão bonita em toda a minha vida.

Senti que todos os meus anos de aula de português, de ler o dicionário para aprender novas palavras, da minha formação em duas línguas estrangeiras, nada daquilo havia me ensinado a palavra de que eu precisava me valer naquele momento para descrever o que estava sentindo.

Eu simplesmente senti e sorri, como se todas as mazelas do mundo fossem curadas diante de meus olhos incrédulos. Eu senti, e como não tinha palavras pra escrever, esqueci como ela era. Ou talvez eu tenha esquecido como ela era para que toda vez que a visse eu pudesse sentir tudo o que eu senti daquela primeira vez.

Frase do Dia:

" A beleza que seduz poucas vezes coincide com a beleza que faz apaixonar."
 

José Ortega y Gasset

sábado, 15 de setembro de 2012

A fotografia captura a alma



Fim do dia que durou dois anos. A foto rouba a alma, diziam os antigos. Nesse caso, a foto foi da nossa alma. Naquele momento eu não sabia ainda dos abraços, de que seguraria minha mão sem a menor intenção de soltar. Não sabia nem se a foto ia ficar legal ou não.

Tudo o que eu sabia era que naquele momento meu sorriso estava triste. Vi até uma lágrima escorrer do canto da boca que já estava sentindo saudade do que não poderia ter mais, ao menos por enquanto. Não sei se o sorriso dele chorava.

Ele estava atrás de mim, e o seu violão ainda reverberava as nossas  músicas. Pensava se ele gostaria de continuar atrás de mim, se ele iria me seguir através do portão de embarque, ou se a última imagem que teria de lembrança seria a mesma imagem que tive ao chegar. Um sorriso, um aeroporto, um encontro, uma despedida.

Mas nada disso importava naquele momento, o que importava era a foto. A foto com o período de exposição mais longo da história da Terra, longo o suficiente para destruir até o mais forte filme de adamantium. A foto que demorou dois anos para ser tirada. A nossa foto.


Agridoce...

Frase do Dia:
"A melhor coisa sobre uma fotografia, é que ela não muda mesmo quando as pessoas mudam."
Andy Warhol

A queda de Herz



Existia naquele tempo um reino denominado Brás, onde vivia um príncipe chamado Gregório, filho de Edward, natural de Herz, a capital que se situava a nordeste dali. Desde cedo Gregório havia sido criado nos modelos mais rígidos do catolicismo, nas artes da alquimia e da magia, deixando de lado suas habilidades de combate para se tornar um estrategista melhor. 

Ora, chegou o momento de procurar uma princesa, para que pudesse dar continuação a linhagem da família real, sendo procurado então pelo Rainha Carlota, do reino das Ramas, para conhecer sua filha, Minerva. Curiosamente os dois se apaixonaram imediatamente, coisa rara em casamentos arranjados, ainda mais tendo ambos sido criados em reinos tão distantes. Viveram felizes, apesar de ainda não estarem aptos para governar o Reino que futuramente pertenceria aos dois, tendo que, por alguns anos, permanecerem separados, situação que trazia muito sofrimento a ambos.

Estando próximo de assumirem seus reinos, a princesa Minerva acabou conhecendo o imperador Akihito, do Reino de Barbalha, e acabou ficando confusa quanto a seus sentimentos, abandonando então Gregório para viver junto do imperador, acreditando que esta seria a melhor das escolhas.
Gregório aceitou seu destino e acreditando que a situação era irreversível, se resignou com a derrota. Entretanto, foi convocada para vir a Herz a General Virtu, que homônima da deusa grega da sorte, convenceu Gregório de que aquela era uma batalha que poderia ser vencida. Começou então Gregório uma batalha de inteligência e contra-inteligência, sendo que com o tempo a princesa Minerva buscou contato novamente com o velho príncipe, além de começar a manter contato a partir de então com a General Virtu.

Tudo corria bem, até que em um determinado momento Virtu decidiu compartilhar os planos com o General residente de Brás, Daemom, conhecido por subestimar os desejos do príncipe, e sempre buscar a decisão que ele achava correta.

Daemom decidiu então que Minerva, amiga e confidente de Gregório, que há muito tempo não se aproximavam tanto, era uma influência negativa para o príncipe, por mais que esse discordasse absurdamente, decidindo então que a melhor estratégia para se vencer a batalha era entregar todos os segredos do reino para Minerva e esperar que ela se afastasse ou decidisse de vez ficar ao lado de Gregório.

Gregório, em sua sabedoria, percebeu que era um plano ridículo, mas não conseguiu impedir Daemom de executá-lo. Com os segredos em mãos, estava aberto o caminho para a queda ou ascensão de Herz, assim como a natureza dupla do nome de Daemom, deus e demônio.

Qual será o destino de Herz?

Frase do Dia:
“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens tem medo da luz.”
Platão.