sábado, 16 de maio de 2009

Teoria da ilusão de ótica ou Fontismo Social for Dummies


fonte: http://www.acemprol.com/download/file.php?id=8721&t=1


A e B são diferentes certo?

Errado

fonte: http://paulocsm.files.wordpress.com/2008/06/18-xadrez-2.jpg


Isso ocorre porque nossa visão trabalha de forma comparativa, sempre comparando o centro e a periferia, de modo que não se representa a verdade física e sim a verdade que mais nos interessa. Ou seja, não exergamos o mundo, mas sim nossa representação de mundo.

Mas não é só a visão que funciona assim. Também nas realações sociais, na ciência, no amor e outros não exergamos a verdade "verdadeira", mas sim a verdade que mais nos interessa. Aliás essa transferência dos sentidos para nossa percepção errada de mundo parece se tornar o novo paradigma da ciência. Poderia gastar um texto para cada um desses campos, mas o objetivo desse post é analisar especialmente a visão social.

Uma pessoa isolada não pode receber adjetivos, ela é ausente de qualidades. Uma mulher pode ser homem ou mulher, branca ou negra, burra ou inteligente, bonita ou feia, magra ou gorda. Uma pessoa isolada pode ser no máximo um padrão ouro para determinada característica, delegada pela nossa visão de mundo, obviamente míope e errônea, facilmente manipulada pelo restante da sociedade.

Desse modo, dizemos que determinado indivíduo é feio, ou burro, ou engraçado, ou perdedor ou vencedor por nossas convicções internas e nosso senso estético, moral e social.

Exatamente aqui boa parte das pessoas perguntaria:

"Mas porque o julgamento de determinada pessoa é melhor ou mais válido do que o meu?"

retórica.

Quando em contato com a senso comum social, passa a desenvolver suas opiniões de maneira comparativa centro-periférica de acordo com convenções sociais pré-estabelecidas, padrões ouro para diversas qualidades. Dessa maneira passa a ser um eco do que o restante da sociedade, o "consciente coletivo", pensa.

Então passamos a dizer que uma determinada pessoa é feia pois comparamos ela ao seu, ao meu, ao nosso padrão ouro de feiúra e percebemos que ela está próxima.

Digo feiúria, porque primeiro estabelecemos a qualidade negativa para depois opor a ela a qualidade positiva, de modo que em um estado natural todos teriam qualidades positivas devido a própria ausência de qualidades.

Seguindo esse raciocínio, um ser humano isolado, sem contato com a opiniao dos demais, seria incapaz de emitir qualquer juízo de valor, pois juízos de valor nessa concepção seriam construções sociais.

Acredito que seja um raciocínio complicado de se entender, mas acho que o Paradoxo de Depp ajuda a elucidar:

Eu só sou parecido com o Johnny Depp para as gurias que acham ele o cara mais feio do mundo. Para as cocotas que acham ele bonitão, eu não sou nem um pouco parecido com ele. Em ambos os casos eu sozinho sou masi prócimo de um padrão ouro de (falta de) beleza, e quando sou comparado com o Johnny Depp o que importa é se ele está ou não no mesmo padrão que o meu.

Óbvio que existem mais qualidades e padrões ouro, mas esse era só um exemplo.

Entretanto, uma pergunta me atormenta:

"Porque nos enganamos com uma falsa realidade?"

A explicação serve tanto para a ilusão de ótica, quanto para a ilusão social.

Primeiro, porque temos dificuldade para perceber essa realidade, e só percebemos quando observamos por outro prisma, outro ponto de vista, nem que para isso necessitemos da ajuda de outros.

O segundo e mais importante motivo é que aceitamos essa falsa realidade porque nos é cômoda. Adoramos ser enganados se quando formos enganados conseguirmos alguma vantagem, mesmo que ela seja absurdamente menor que o prejuízo.

No caso da visão, ela é importante para que achemos que o branco é branco em qualquer horário, lugar ou situação, mesmo que na realidade ele seja cinza. Caso contrário, uma folha de papel branca se tornaria cinza de noite. Essa capacidade ser revela extraordinariamente útil em nossa adaptação ao meio.

Já na realidade social, isso serve como um meio de fazer do povo massa de manobra e dividir a humanidade entre os que criam so padrões ouro e os que os seguem. Algo que devia ser aparente, e que para a maioria da pessoas é. Além disso, os que ditam precisam estar mudando de realidade, para evitar que os que seguem fiquem saturados e mudem eles mesmo seus paradigmas (sem ambigüidade aqui, o "seus" serve para ambos).

Entretanto, mesmo sabendo que o que veem e o que acreditam é a interpretação que mais nos satisfaz, o ser humano ainda insiste em aceitar a "nossa verdade", mesmo que ela só o prejudique.

Cada um, cada um.

Frase do Dia

"O povo que subjuga outro, forja suas próprias cadeias. Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência."

Karl Marx

11 comentários:

Comentador Fiel disse...

Cento e pouquinhos post e a primeira citação de Marx.

Engraçado.

Polly Ana disse...

[silêncio]

Daniel Seixas disse...

Acho que discusões sobre essas coisas que não podemos mudar não são de muita ajuda, mas tem seu valor.
É bom lembrar as vezes que podemos não ser tão ruins como o mundo diz. Ou não.

Mas o mais importante é discutir como lidar com essas situações. Não tenho sugestôes.

O mundo é dos mais adaptados, sempre foi e sempre será assim. Sorte daqueles que são o padrão ouro.

Rábula disse...

Você disse que não enxergamos o mundo mas sim uma representação dele, e que não exergamos a verdade "verdadeira" mas sim a verdade que nos interessa. Concordo que enxergamos uma representação do mundo e a verdade que nos interessa, mas discordo quanto a existência de um mundo que não seja representação ou da verdade "verdadeira".

Não acho que o meu julgamento seja melhor que o seu ou vice-versa, justamente por não achar que existe um julgamento certo. Existe um julgamento que alguém criou (padrão ouro) e, ou por poder de persuasão ou qualquer outra forma de dominação, conseguiu que este fosse a verdade estabelecida; o poder constituído.

Porque nos enganamos com a falsa realidade? Porque é a única realidade que existe.

A respeito de perceber a realidade da forma verdadeira, olhá-la sob outro prisma e mimimi, me diga: como saberemos que saímos da representação e entramos na realidade? Se alguém me disser: "eu encontrei a realidade, ensinarei técnicas e posturas para que todos possam percebê-la, assim como percebi" verei o nascimento de mais uma nova religião.

Não acredito na verdade una, o mundo é a reunião dos filtros que há em cada mente humana, alguns conseguem tornar seus filtros individuais filtros coletivos.

Patrícia Colmenero disse...

acho que projetamos nos outros o que somos.
e, se estamos insatisfeitos com nossa aparência, tb não conseguimos nos satisfazer com a do outro. e se nos achamao incompetentes o outro tb é
principalmente o outro que te ama.
projeção é um saco.
adoro, como sempre, seus comentários. vc é fiel e bom no que faz!
vou seguir o coração das cartas. preciso mesmo dar espaço para a minha intuição.

Comentador Fiel disse...

"como saberemos que saímos da representação e entramos na realidade?"

não conseguiremos, independente da visão, ela é contaminada.

John, O Lobo disse...

Um ponto que discordo é que um ser humando isolado não é capaz de juízos devalor. Pois apesar de não ter o parâmetro que seria o sentimento estético coletivo, ele ainda assim sente prazer e deleite, e julgará como bom e belo aquilo que lhe taz essas emoções.

Quanto a realidade, acho que o rábula está errado, deve existir sim uma realidade pura, só que como diz o champz, ela se contamina pelo observador.


Esse é um dos motivos de eu ter parado de responder quando comentam o que eu digo. Cada pessoa analisa de um jeito e interpreta como acha melhor. Apesar de haver uma interpretação real, que é o que eu de fato quis dizer, não tem muito motivo pra discutir, cada um cria a realidade que lhe apraz.

Patrícia Colmenero disse...

tive uma alucinação hoje de manhã
o despertador tocou e eu pensei: confie no coração das cartas
aí eu voltei a dormir e atrasei pro trabalho hehehe

Polly Ana disse...

Não existe realidade. O que temos é o que inventamos, por interesse ou por medo.

Rábula disse...

O problema é a comunicação John, ou você não foi claro ou os outros não conseguiram atingir sua linha de raciocínio. Mas como disse Habermas, a opinião realmente muda quando há o debate, não quando apenas ouvimos, ou lemos.

Patrícia Colmenero disse...

se eu usasse algo para obter as minhas alucinações, seria calma demais e jamais seria poeta...nem estressada, ou angustiada, e com enxaqueca... ;)
vc está na minha mente...uuuu